Intervalo Importante para o ano de 2023. Parte 1.

No artigo abaixo compartilho dois textos recentes que escrevi para os clientes, e, por último a atualização do meu medidor de ciclo econômico proprietário:

(i) Variações interessantes em dados econômicos;

(ii) Inflação Retrocede, expectativas avançam e China decepciona novamente no mês de julho;


Variações interessantes em dados econômicos em um mercado de narrativas fortes mas dados frágeis

Iniciamos comentando sobre um indicador que segue robusto, mas que novamente é revisado negativamente um mês depois de sua divulgação, o indicador de emprego, o qual está se tornando usual todo mês após a divulgação de dados que surpreendem positivamente, os mesmos serem revisados para baixo. A revisão do dado de emprego da ADP referente ao mês de junho, feita no fechamento do mês de julho, foi de 50 mil empregos a menos que o divulgado inicialmente pela ADP (10% a menos), mesmo assim, o dado de 450 mil novos empregos (pós-revisão) veio muito acima do esperado. Apesar da tradicional sazonalidade de aumentos de empregos temporários em julho (e janeiro), o dado demonstra a incrível resiliência do mercado de trabalho americano nesta altura do ciclo. A mesma resiliência fortaleceu a expectativa de um retorno a aumentos nas taxas de juros, além de ter dado um conforto (ao menos) “psicológico” para as decisões de política monetária (restritivas) por parte do Fed.

Acreditamos que a utilização de dados econômicos com reflexos atrasados para fins de monitoramento cíclico (lagging indicators) para tomadas de decisões que afetam expectativas futuras de política monetária, e, nesta altura do andamento do atual ciclo, possuem alto potencial (e evidências históricas) de trazerem novos problemas em vez de velhas soluções para os próximos capítulos do complicado ano de 2023.

Às vezes, soluções que visam agradar o mandato político de curto-prazo, podem causar estragos econômicos maiores no médio-prazo, como ocorrido em diversas outras ocasiões, onde excesso de aumento de juros junto com viradas no ciclo de crédito estressaram os mercados muito mais do que necessário, sinais para estresses no mercado de crédito não faltam desde março de 2023.

Acreditamos que seguindo o atual contexto, os próximos passos serão aumentos de falências e dificuldades de rolagens de dívidas corporativas, conforme os vencimentos das dívidas atuais que foram colocadas a cupons menores se aproximarem nos próximos meses. Como os resultados corporativos não estão animadores para crescimento orgânico em geral, e ainda com queda de demanda do consumidor, não acreditamos que haja muita margem de manobra para as empresas com balanços mais frágeis, e, manter a saúde financeira em linha com as expectativas atuais e spreads dos bonds será um desafio. Isso sem contar os estresses de depósitos em instituições bancárias menores, que também poderá voltar a surgir no (importante) mês de setembro.

Este episódio chamado de “parede de vencimentos”, naturalmente trará dificuldades de manutenção de emprego nos patamares atuais para diversas empresas mais alavancadas e em setores cíclicos, essa é a opinião das principais agências de crédito no mês de julho. Um exemplo recente do último dia de julho, a empresa Yellow, de transporte e logística e com 99 anos de história decretou falência e irá desligar mais de 22 mil funcionários, o que poderá machucar as métricas de emprego cuidadosamente acompanhadas mensalmente (e depois revisadas quando não mais em foco nos noticiários).

Inflação retrocede, expectativas avançam e China decepciona novamente no mês de julho:

Seguindo o acompanhamento de dados econômicos, a inflação americana no mês de julho, medida pelo CPI, reduziu de 4.1% para 3% anualizada, sendo portanto a taxa de juros americana de 1 ano em torno de 5.35% já possível de ser interpretada como uma taxa que coloca a política monetária em território restritivo (como não observado desde antes de 2008). A parte mais variável da cesta da inflação, o custo de energia, tem ajudado na atual sequência de 12 meses seguidos de queda consecutiva. A alta do petróleo de 16% no mês de julho entretanto poderá não ajudar na leitura de agosto.

A queda no preço do petróleo acumulada de 13.25% nos últimos 12 meses (-35% nos últimos 13 meses), segue incomodando a OPEC. Até o fim do mês de julho, a commodity segue em baixa, mas ainda viva e tentando retornar para os 80 dólares antes da temporada sazonal de alta (o barril de Crude na NYMEX costuma subir no fim do verão no hemisfério norte). Mesmo com diversos cortes da OPEC, incluindo um encaminhado pela Arábia Saudita no último dia do mês, e que reduziram a produção a níveis próximos de 2020/2021, não são capazes de reativar a alta para acima dos 80 dólares e a continuidade da queda é majoritariamente atribuída a uma sequência de decepções com a demanda global, principalmente devido aos maus resultados da economia chinesa, a qual era considerada a super-estrela do ano de 2023 com a “reabertura da China”, tema que a rapidamente a mídia financeira escondeu debaixo dos tapetes. A animação com o preço do petróleo no fim de julho veio de uma revisão da EIA com a expectativa de maior demanda americana pela commodity.

As “análises apaixonadas” de analistas otimistas no início do ano apostando numa super-recuperação da China (e das commodities) seguem esquecidas, decepções, entretanto, são fáceis de achar. O desemprego entre os jovens na China ultrapassa os 20% em dados oficiais (e 40% de acordo com rumores não oficiais), o país entregou mais um mês de deflação tanto ao consumidor, quanto ao produtor, a implosão dos bonds em Dollar na China ao longo do mês de julho foi histórica com empresas incapazes de pagar os juros (e não o principal). É válido lembrar que o pior cenário possível nas matrizes econômicas é aquele de recessão deflacionária em ambiente de alto endividamento. Por fim, as injeções de capital ao longo de 2023 são continuas e cada vez mais funcionam menos, a ponto de serem questionadas publicamente. Os valores já ultrapassam a casa dos trilhões (em yuans), a fraqueza da moeda também chamou a atenção em um mês que o Dollar Index teve uma de suas piores performances nos últimos dois anos, ocasionando na queda do secretário (diretor) do BC da segunda maior economia do mundo.

Consideramos a queda de Guo Shuqing um tema importante e que infelizmente foi esquecido pela mídia financeira ao longo do mês de julho. O atual secretário nomeado no mês passado, Pan Gongsheng é próximo a Xi e vem do ramo da regulação de bolsas estrangeiras no país, já iniciou gastando reservas para stopar os especuladores vendidos em yuan. É e continua sendo complexo entender o porquê a mídia financeira ignora eventos importantes na segunda maior economia do mundo.


Medidor de Ciclo:

Consiste em 4 quadrantes: Expansão, Recuperação, Desaceleração (slowdown) e Recessão:

A leitura atual é referente ao fim do mês de junho, nos últimos 12 meses 3 foram caracterizados como recessão e 9 como slowdown, o mês de junho de 2023 está referenciado, a conexão entre as linhas reflete a variação mensal do indicador.

Medidor de Ciclo Proprietário Eraldo De Paola
(caso seja profissional da industria e tenha interesse em utilizar a imagem basta entrar em contato comigo pelo twitter @EraldoPaola)

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