Monitoramento de Mercado do Meio do Ano

No começo do ano, o consenso apontava para uma economia ainda em crescimento, mas perdendo fôlego. Após um desempenho robusto em 2023, o PIB americano começou a desacelerar em 2024, com sinais de continuidade dessa tendência. O impulso dos estímulos pós-pandemia se esgotava, e os dados mostravam que grande parte das famílias, sobretudo os 80% da base da pirâmide, já sentia o aperto, com queda na poupança e maior uso de crédito. Será que chegou a hora do consumo começar a demonstrar o esfriamento da economia?

Mid-Year Outlook da Morgan Stanley, 20 de Maio: expectativas de modelos do impacto das tarifas no consumo.

Do lado das empresas, o investimento mostrava cautela, com uma exceção: inteligência artificial. O setor seguiu firme na construção de infraestrutura, se consolidando como um dos poucos pontos de confiança corporativa.

Em abril, as tensões comerciais voltaram ao centro do debate. O dia 8 marcou o pico de estresse com tarifas e o fundo dos mercados. Em seguida, veio uma recuperação expressiva, com os índices voltando aos níveis de janeiro. Com o noticiário menos negativo, o apetite por risco retornou. Em maio, a Casa Branca anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas e sinalizou tom diplomático mais brando com a China, o que deu alívio aos mercados. Desde então, o S&P 500 subiu mais de 19% e o Nasdaq, 25%. O mercado de crédito acompanhou, com spreads retornando aos níveis do início do ano.

O quadro, porém, segue indefinido. No fim de maio, uma corte federal bloqueou a nova política tarifária—uma decisão esperada desde o Liberation Day—mas que deve ser judicialmente contestada. Na prática, os eventos apenas empurraram a questão para um terreno mais incerto.

Os efeitos econômicos dessa reconfiguração comercial ainda estão em formação. A incerteza sobre os rumos da política pesa tanto sobre o consumo quanto sobre o investimento. Projeções indicam desaceleração do PIB real de 2,5% em 2024 para 1,0% em 2025–2026, com desemprego se aproximando de 4,8% nesse período. O crescimento global também esfria, especialmente na Ásia e Europa, onde moedas mais fortes e atritos comerciais afetam a atividade.

Ao mesmo tempo, as taxas longas seguem elevadas. O rendimento do título do Tesouro Americano de 10 anos aumentou durante o mês de maio, e está perto de 4,5%, nível que em ocasiões recentes começou a pressionar os múltiplos de ações na bolsa. Juros altos reduzem o valor presente dos lucros futuros e atuam como teto para os valuations, que ainda estão acima da média histórica, mesmo após a volatilidade de abril.

Há várias explicações para a resiliência dos yields. Alguns citam preocupações fiscais, outros, fatores externos como o alongamento da curva japonesa. Mas o pano de fundo nas discussões cotidianas permanece o mesmo: a questão fiscal dos EUA.

A dívida pública está em quase US$ 36 trilhões, com juros médios de 3,6%, o que implica mais de US$ 1,3 trilhão em custo anual, mais de 25% da arrecadação federal. O mercado já espera novos déficits, com projeções de pelo menos US$ 2 trilhões em novas emissões na próxima década. Embora a agenda fiscal atual não repita a escala do estímulo da era Biden, o “Big Beautiful Bill” no Senado tende a ampliar ainda mais os desequilíbrios.

Nesse cenário, a política monetária volta ao centro das atenções.

O Federal Reserve enfrenta um dilema entre manter juros altos para conter a inflação ou agir para evitar uma desaceleração excessiva. Segundo Jerome Powell na coletiva do FOMC de maio: “Acredito que estamos em uma posição confortável para esperar e observar. Não precisamos ter pressa. A economia tem sido resiliente e está indo relativamente bem. Nossa política está bem calibrada, e os custos de aguardar mais dados são relativamente baixos, na nossa visão.”

Essa cautela contrasta com o otimismo do mercado. A pesquisa do BofA de Global Managers em maio indicou que 46% dos gestores esperam ao menos dois cortes este ano; 25% projetam três cortes, e 16%, um. Esses dados se refletem nos futuros da CME. No entanto, muitas casas de análise alertam que a inflação pode reacelerar entre 3,5–4% caso as tarifas se materializem, o que tornaria cortes menos prováveis, e poderia relembrar episódios de estresse na bolsa e nos bonds, como os de 2022 e 2023.

Pesquisa de Global Fund Managers de Maio do BofA, entrevistados dando opinião sobre quantos cortes de juros acreditam que o Fed irá efetuar em 2025.

Outros bancos centrais seguem outro caminho. Espera-se que BCE e Banco da Inglaterra continuem cortando juros, dada a desinflação em curso. No Japão, o BoJ deve manter a taxa estável até o fim de 2026. Assim, apostas em um dólar estruturalmente mais fraco podem estar exageradas.

O FOMC, por sua vez, ainda equilibra riscos. Manter a política apertada demais pode enfraquecer o mercado de trabalho e elevar o risco de recessão. Agir cedo demais, por outro lado, arriscaria sua credibilidade. O Comitê, por ora, opta por esperar.

Um novo risco começa a se formar, entretanto, a perda de tração do crescimento. O consumidor está mais pressionado, com pouca poupança e endividamento elevado, enquanto pequenos empresários hesitam em investir. Caso a fraqueza da demanda pese mais do que a alta de preços, o Fed poderá ser levado a cortar juros. Todos esses dados pessimistas com consumo novamente se refletiram no livro bege do Fed do final de maio.

Esse cenário também impactaria as expectativas de lucros, que seguem elevadas mesmo após uma temporada de resultados abaixo do esperado. Se a desaceleração se confirmar, dificilmente o Fed manterá sua atual postura por muito mais tempo. A bolsa segue em tendência de alta, mas, o prêmio pelo risco é um dos mais baixos dos últimos vinte anos, ao passo que a volatilidade nas previsões de lucro é uma das mais altas dos últimos vinte anos.

O monitoramento de mercado nesse verão será crucial.

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Fragilidades Estruturais e Convergência de Expectativas