O Fim de 2025

Decidi chamar este texto de Fim de 2025 em vez de Perspectivas para 2026, porque a segunda opção carrega naturalmente um tom mais otimista, e já existe otimismo demais embutido na narrativa atual. Como sempre, o meu objetivo é manter uma postura neutra em relação ao ciclo. Poderia gastar páginas apresentando argumentos otimistas e outras tantas listando argumentos pessimistas, mas o mundo moderno já não oferece a mesma paciência de antigamente para textos longos sobre temas macroeconômicos.

Por isso, antes do texto principal, quero enquadrar a discussão com um ponto simples: o objetivo aqui não é mostrar o que pode dar errado, mas questionar se o que pode dar certo já está no preço. Na minha visão, este é o debate mais apropriado neste momento.


À medida que nos aproximamos de 2026, o mercado tem vibrado com a narrativa em torno de crescimento estável, cortes graduais de juros pelo Fed e um ciclo de lucros que pode continuar surpreendendo positivamente após um dos melhores trimestres do ano. Os resultados corporativos têm sido fortes e os investidores rapidamente voltaram a buscar risco, como mostram pesquisas recentes que apontam o maior posicionamento comprado em ações dos últimos meses. Mas justamente porque o otimismo voltou tão depressa, o mercado entrou numa fase em que pequenas diferenças podem valer mais do que grandes narrativas, e alguns desses detalhes merecem ser observados com mais atenção.

O primeiro é que o horizonte da política monetária se tornou menos binário. Mesmo que a expectativa dominante ainda seja por cortes de juros, a velocidade e a intensidade desse processo podem mudar conforme os dados de emprego e inflação oscilam. Vários indicadores do mercado de trabalho mudaram de direção nas últimas semanas. Por exemplo, pedidos contínuos de seguro-desemprego aumentaram, enquanto vagas abertas diminuíram. Isso gerou dois efeitos: alívio sobre pressões inflacionárias e maior preocupação com a força da atividade econômica. A sensibilidade a cada novo dado tende a aumentar em 2026, já que as avaliações de mercado estão elevadas e há pouco espaço para surpresas negativas.

O que começou como um movimento concentrado de grandes empresas evoluiu para um fenômeno amplo que afeta cadeias de semicondutores, sistemas de energia, software e logística. Mas, conforme o volume de capital cresce, as perguntas deixam de ser sobre expansão e passam a ser sobre eficiência: quais modelos de negócio realmente capturam valor? Onde estão os gargalos físicos e energéticos? Quais empresas investem para escalar e quais apenas para não ficar atrás? O resultado inevitável é um ambiente de maior dispersão entre setores, com trajetórias bastante distintas mesmo dentro de grupos que parecem homogêneos à primeira vista.

O comportamento do consumidor americano também entra nessa equação. O gasto agregado continua sólido, mas sua composição tornou-se menos equilibrada. Famílias de maior renda seguem consumindo em ritmo elevado, enquanto outras mostram sinais de estresse financeiro, como aumento de inadimplência e redução da poupança. Isso não significa que uma recessão esteja próxima, mas indica que os padrões de consumo podem ficar menos previsíveis e mais sensíveis a mudanças no mercado de trabalho, especialmente porque a força recente do consumo tem vindo de grupos com baixa propensão marginal a consumir.

Já a inflação permanece estável, mas não totalmente previsível. Tarifas, mudanças nas cadeias produtivas, pressões salariais regionais e ajustes no setor de energia continuam influenciando o ritmo de desinflação. Em vez de um caminho suave até a suposta meta, o que parece emergir é um processo mais granular, moldado por dinâmicas específicas de cada setor. Em um mercado com valuations elevados, essa granularidade importa.

Por fim, o ambiente de crédito corporativo entra em uma fase muito diferente das condições que definiram 2021–2022. Muitas empresas que captaram recursos naquele período agora se aproximam de janelas relevantes de refinanciamento, mas sob condições financeiras que pouco lembram as de então. Isso não indica um estresse sistêmico, indica a necessidade de maior seletividade. Empresas mais alavancadas, ou que enfrentam competição em setores sujeitos a disrupção tecnológica acelerada, provavelmente lidarão com custos de capital mais altos e negociações mais complexas para rolagem de dívida. O resultado é um mercado mais diferenciado e com menos movimentos generalizados de alta.

Considerando esses temas em conjunto, as evidências sugerem que 2026 tende a impor mais desafios do que oferecer avanços claros e positivos. O mercado já internalizou uma visão otimista: crescimento consistente, políticas mais alinhadas e lucros sólidos, apesar da incerteza sobre a confirmação desses resultados. Acredito que uma parte relevante do otimismo já está refletida nas avaliações atuais, enquanto os desafios que podem moldar o próximo ano ainda estão surgindo e não são plenamente reconhecidos.

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